joana não come com o papa

e eu também não. felizmente vou trabalhar. contribuir para o desenvolvimento deste país. ou pelo menos ajudar a abrandar o galopante défice público. ao contrário deste governo de corruptos e hipócritas. e não vou ter de comer com o papa na tv porque felizmente tenho mais canais. muitos deles laicos. agora o que eu vou ter de comer é com dificuldades acrescidas ao já fluente trânsito de lisboa para chegar onde preciso de chegar para receber o meu ganha-pão, e descontar os meus 20% de ordenado. e vou ter de comer com essas mesmas dificuldades para chegar a casa para o meu merecido descanso. e vou ter de comer com tudo outra vez no dia seguinte. vou ter de comer com polícias autoritários e arrogantes [estúpidos mesmo, porque não dizê-lo] pagos com os meus impostos a dizerem-me onde posso ou não posso andar. no entanto quando precisei deles rapidamente esqueceram o lema que vem timbrado nas suas folhas oficiais: "existimos para o servir". e vou ter de comer com o lixo que vai ficar na rua depois deste festival sagrado. fruto da recolha de caixotes e ecopontos, mesmo quando se esperam milhares de pessoas. mas apesar de ter de comer com estas coisas, não as vou engolir. isso não. porque não consigo engolir que os meus impostos sirvam para andar a pagar forças de segurança, cortes de estrada, recolha de equipamento público, montagens de palcos e passeatas por lisboa de um líder religioso. seja ele quem for. num momento em que o país se contorce para manter a cabeça acima da linha de água. não consigo engolir que a função pública pare para ver um padre alemão dar uma missa e ser venerado como se de deus se tratasse. não consigo engolir que um cobarde de batina branca que tarda em tomar uma acção em relação aos seus soldadinhos pedófilos seja recebido pelo presidente da república com honras militares [consegeum ver a ironia aqui: receber o papa com honras militares]. não consigo engolir que se tenham enganado a fazer a constituição e lá tenham posto que somos um estado laico. custa-me engolir que me chamem "voz do contra" por ter esta opinião. e custa-me engolir que este movimento cruzada confunda "liberdade e direito individual de cada um expressar a alegria pela visita do papa a portugal" com impor o seu circo divino aos outros e darem cabo do dia e dos nervos das pessoas que trabalham ou mesmo daqueles que não partilham a mesma fé. preocupem-se em expulsar os padres pedófilos que se escondem atrás de um crucifixo e de sua santidade em vez de andar a transferi-los de paróquia para que eles possam violar mais crianças. preocupem-se em dispender dinheiro com os necessitados em vez de esbanjar em desfiles megalómanos. preocupem-se em contribuir para a recuperação deste país em vez de fazê-lo chafurdar na merda. neste momento fé todos precisamos. mas cada macaco no seu galho. a minha fé gozo-a e celebro-a como e quando quero [sem incomodar ninguém]. e no dia 11 e 12 de maio o que eu quero é trabalhar, com fé que o meu trabalho juntamente com o de milhões de outros portugueses possa ao menos ajudar portugal a vislumbrar um futuro melhor.

ps. frase simplesmente deliciosa que vem na nota de imprensa do comando metropolitano de lisboa da psp a propósito da "visita de sua santidade a lisboa" [é literalmente assim que vem na nota de imprensa]:
"acate com total disponibilidade as ordens dos polícias pois as mesmas destinam-se a garantir que todos os cidadãos terão os meios privilégios para assistir à passagem do santo padre, seja por isso um órgão facilitador da acção policial e não comprometa a segurança do evento."

ah granda estado laico. é caso para dizer que este país é mais papista que o papa.